Cem anos de inundações. Calor antártico recorde. Incêndios florestais e seca. As histórias se repetem com regularidade entorpecente. E, embora as particularidades sejam diferentes, todas apontam para a mesma conclusão sombria, somos incapazes de lidar com as mudanças climáticas. Com as emissões de carbono aumentando, o que antes era descartado como pior cenário, agora parece o melhor que podemos esperar.
Se o Plano A deveria impedir, ou pelo menos mitigar, os impactos mais graves das mudanças climáticas, qual é o Plano B?
No cenário do plano A, a arquitetura e o urbanismo focaram na ideologia de design "resiliente". Mas, como continuar debatendo sobre "resiliência" diante de projeções cada vez mais agudas, seria uma forma de negação climática. Está na hora dos urbanistas e pesquisadores começarem a substituir a palavra R, por uma concepção não tão absurda.
Retiro.
De acordo com um artigo recente da revista científica Nature Communications, algumas das projeções anteriores sobre o deslocamento da população, devido ao aumento do nível do mar, são muito inferiores. Em todo o mundo, cerca de 50 milhões de pessoas serão forçadas a se deslocar para áreas mais altas, nos próximos 30 anos, os oceanos provavelmente subirão mais do que o previsto, com uma diáspora costeira pelo menos três vezes maior; em 2100, o número de refugiados climáticos poderá ultrapassar 300 milhões. De fato, é provável que a elevação do nível do mar seja medida em jardas e metros, e não em polegadas ou pés.
Para aonde irão todas essas pessoas em deslocamento? Elas poderão ser acomodados em cidades, vilas e aldeias existentes? Quais cidades defenderemos? A qual nos renderemos? Quem irá decidir? Esses são desafios sem precedentes de planejamento urbano, os quais ainda não estão sendo considerados e solucionados pela sociedade. Dada a perspectiva cada vez mais assustadora, acreditamos que está hora de começar.
Nos últimos anos, vimos inúmeras estratégias de resiliência climática, que incluem o biogás, jardins tropicais, lagoas e taludes de contenção, barragens, barreiras costeiras, e até mesmo criadouros de ostras. Todos esses métodos são úteis, porém, apenas auxiliaram na proteção das cidades costeiras, se as emissões de carbono também forem reduzidas, a tempo de mitigar impactos ainda piores das mudanças climáticas.
Nós dois moramos em Nova Orleans, uma cidade que está abaixo do nível do mar, e que pretende buscar soluções para sobreviver as adversidades, no entanto, para o bem das futuras gerações, precisamos avaliar as ameaças futuras, e articular uma estratégia. Urbanistas projetam dentro de diversos cenários, o desafio hoje é ainda mais complicado. A luta política para conter, e eventualmente eliminar os combustíveis fósseis, deve continuar, e, ao mesmo tempo, devemos estar preparados para um possível cenário negativo, executar ambas ações simultaneamente, é o caminho mais responsável.
Estratégias de saída que funcionem nos cenários mais severos devem ser avaliadas. Deslocar cidades existentes, revitalizar as antigas para um crescimento explosivo, criar novos assentamentos, e mitigar milhares de quilômetros de bordas costeiras poluídas será caro e complicado. Mesmo com planejamento, este será um processo confuso e até brutal; se não planejado, com toda a probabilidade, ele cairá no caos direto da ficção científica.
A empresa de Steven, Concordia, liderou o planejamento político e emocional em Nova Orleans, pós-Katrina, uma cidade com uma população previa de 485.000, e hoje cerca de 390.000 habitantes. O processo exigiu um grande esforço, e sem precedentes, porém não será nada comparado aos desafios simultâneos que as cidades, e vilas costeiras enfrentarão nas próximas décadas. E, estes não são os únicos problemas. Muitas cidades do interior também sofrerão com a escassez de água, devido em parte aos padrões de assentamento e a agricultura. As migrações em massa inevitavelmente se tornarão parte do futuro de nossos filhos e netos.
Infelizmente, poucos de nossos políticos chegarão a este ponto, já que seu planejamento se limita precisamente até a próxima eleição. É a hora dos arquitetos e urbanistas soarem o alarme. Tempo, em outras palavras, para se tornar real.
A ironia é que, à medida que nos aproximamos destes problemas, empresas de energia e seguros, e até o Pentágono, se voltam contra, evitando tais discussões. No mundo real, isso é chamado de gerenciamento de riscos. E, embora muitas cidades tenham iniciado o processo de planejamento resiliente, é hora de se unirem aos estados e regiões, bem como ao lado civil do governo federal, para garantir que as interrupções inevitáveis sejam antecipadas e gerenciadas da maneira mais humanizada, e justa possível.
Cidades costeiras inundadas não são apenas uma questão de segurança nacional; não são apenas um desafio burocrático para o setor de seguros. São o nosso futuro, e dependem de nós.
Este artigo foi publicado originalmente no Washington Post, cortesia da Common Edge.